Um tema que se tornou cada vez mais relevante nos últimos anos foi a percepção do aumento dos casos de intolerância à lactose na população. Essa percepção pode ser justificada pelo aumento na procura dos testes e maior precisão dos exames para diagnóstico da intolerância a lactose.
Nesse sentido, além dos testes mais comuns disponíveis, coleta de sangue para dosagem de lactose em jejum e exame genético, atualmente outro exame tem ganhado destaque por ser um método não invasivo de detecção da doença.
Esse exame é o Teste Respiratório de Hidrogênio Expirado e pode gerar dúvidas sobre seu funcionamento e qual sua real utilidade.
Como o exame funciona?
O processo de digestão e absorção dos carboidratos começa pela boca com a enzima amilase salivar e segue ao longo do trato gastrointestinal. No intestino delgado ocorre a devida absorção dos carboidratos que foram transformados em monossacarídeos por meio da digestão no duodeno.
Partindo desse pressuposto, no corpo humano a produção do hidrogênio (H2) e o metano (CH4) é realizada por meio da fermentação dos hidratos de carbono endógenos e exógenos pela microflora entérica. Essa produção pode ser medida na respiração após a ingestão de carboidratos.
Quando ocorre um aumento da concentração desses gases na respiração, pode-se inferir que o substrato ingerido não foi devidamente absorvido no intestino como citado anteriormente.
Isso, pode ser explicado, pois essa fermentação anaeróbica que gera hidrogênio e metano depende de bactérias sacarolíticas (micróbio que tem a capacidade de gerar energia metabolizando carboidratos) que estão na microflora entérica, assim os substratos não absorvidos são fermentados e aumentam os níveis dos gases citados.
O que ele pode diagnosticar?
Os testes respiratórios de hidrogênio são utilizados para fornecer informações sobre a digestão de determinados carboidratos que podem ser a lactose (açúcar do leite) ou a frutose (açúcar das frutas), diagnosticando assim, intolerância à lactose e a dificuldade na digestão da frutose. Além desses mais usuais o teste pode identificar intolerâncias a diversos carboidratos, como: xilitol, sorbitol e xilose.
O teste pode auxiliar no diagnóstico de disbiose - desequilíbrio desfavorável na composição da microbiota – através da análise do crescimento de bactérias no intestino que estão associados a sintomas como distensão abdominal, gases, cólicas abdominais e diarreias. Essa sintomatologia pertence ao Supercrescimento Bacteriano Intestinal (SIBO) que é uma das patologias da disbiose diagnosticada pelo nosso teste respiratório.
Como o exame é realizado?
Inicialmente é passado ao paciente uma dieta para realizar no dia anterior restringindo alguns tipos de alimentos especialmente a ingestão de lactose e frutose, além de um jejum de até 12 horas para o momento do exame.
O exame é realizado com a expiração do paciente em um equipamento de medição de hidrogênio em jejum e posteriormente, em intervalos seriados, após a ingestão de um carboidrato específico para a patologia investigada.
A solicitação do exame, interpretação e condutas são de responsabilidades médicas e recomendamos que busquem um profissional para análises individuais. Esse exame pode ser realizado em nosso laboratório com agendamento prévio.
Referências científicas:
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